Eu, Luiz de Freitas, Mr. Wonderful

Este não é um livro sobre moda. É o relato de um artista à frente do seu tempo que, com propósito e talento, construiu uma indústria com identidade criativa brasileira feita para o mundo. Mas também é sobre o garoto pobre, do interior, que se lançou na vida e ditou estilos no "grand monde".

Essa jornada também é o retrato de uma época bipolar, mas efervescente. O Rio de Janeiro dos anos 1960 e 1970 fervilhava: Bossa Nova, Jovem Guarda, Tropicália, MPB, Ipanema, Ziraldo, Pasquim, Danuza Leão e Duda Cavalcanti - a "cultura da contracultura". O país tinha comandantes militares, mas o Rio era uma festa, uma loucura!
Com autoconfiança, talento e a dedicação natural das paixões, Luiz virou um ícone carioca: tinha contatos incríveis com pessoas das artes, da sociedade e da comunicação. E trazia isso tudo para a moda. Fez desfiles fantásticos, verdadeiras performances, com as melhores modelos, os melhores cenógrafos e fotógrafos nacionais e internacionais, nas mais inesperadas passarelas, como o Copacabana Palace.

Incomodado com o modo de vestir do homem brasileiro, inventou a "Clínica de Moda" e lançou a primeira coleção da Mr. Wonderful, para "curar" essa caretice com sua proposta comportamental e estética arrojada.

Não por acaso, seu primeiro grande cliente foi Fernando Gabeira, recém chegado do exílio. Afinal, era a tal "anistia ampla, geral e irrestrita". Fez roupas e figurinos para muitas estrelas da TV, cinema e teatro. Famosos estrangeiros piravam: Prince, Nureyev, Freddie Mercury e Gaultier enchiam malas. Gianni Versace comprou caixas da água de colônia MW para presentear amigos. Essas pessoas consumiam e inspiravam a peque- na revolução do Luiz, que a essa altura já tinha construído sua fábrica dos sonhos com mais de duzentos colaboradores. Abriu mão dos endereços chiques para ter uma estrutura com fábrica e ateliê no mesmo espaço, no pé da serra de Petrópolis (interior do RJ), onde produzia e formava novos profissionais. Chegou a ter uma estamparia só para produzir suas criações em pequenas quantidades. Logo nasceram outras marcas. Era a irreverência de Luiz de Freitas no seu melhor: a extravagância criativa. Como loja, a MW teve 10 anos de sucesso, com filiais em São Paulo, Belo Horizonte, Salvador, Amsterdã, no Porto e Lisboa além de um showroom em Nova York.

Com uma proposta de moda brasileira, criativa, contemporânea e única, mas usável, a visão pioneira de Luiz de Freitas incendiou a cabeça de gerações de estilistas. que seguem essa luz, mesmo sem conhecer a fonte. Este livro é para contar e documentar essa história